Mantendo-se inspirado sobre as competições no Rio de Janeiro – Brasil, incluindo os Jogos Olímpicos 2016 e vendo também o resultado dos Jogos Paralímpicos 2016, venho compartilhar o conceito de resiliência e como os empreendedores podem se envolver com a ideia de effectuation (sem um termo melhor em português) de Saras D. Sarasvathy.

Em primeiro lugar, é importante esclarecer o conceito de resiliência que é a capacidade das pessoas de se sentirem melhor rapidamente depois de algo desagradável, como um trauma, estado de choque, lesão etc.

E é por isso que o adjetivo resiliente é comumente usado para os atletas paralímpicos, considerando-se que normalmente eles / elas adquirem a deficiência em um acidente ou após sofrerem uma doença, no entanto independente da razão, eles / elas precisam reorganizar a vida com sua deficiência física ou visual, e da mesma forma no caso de deficiência intelectual, se adaptando e descobrindo novas formas de fazer atividades do dia a dia, como por exemplo, tocar guitarra ou bateria com os pés.

E comparando com os empreendedores, em muitas vezes eles / elas não têm todas as condições que  sonharam para criar um novo negócio e seguir em frente com o seu propósito, por isso eles / elas precisam ser flexíveis e ágeis para identificar as oportunidades e usar seus recursos da melhor forma possível.

De forma similar a este processo de adaptação à realidade, Saras D. Sarasvathy realizou um estudo com empreendedores experientes e identificou algumas questões-chaves na pesquisa com a personalidade do empreendedor e com o ambiente, sendo que os resultados analisados de forma conjunta considerando os processos evolutivos criaram o conceito de effectuation.

Nesta lógica ou pensamento, ela definiu cinco princípios de excelência empreendedora:

  1. O princípio pássaro na mão

Descobrir seus pontos fortes e trabalhar com eles, sendo que este princípio começa em responder algumas perguntas como quem eu sou, o que eu sei e quem eu conheço, depois com estas reflexões imaginar o negócio que poderia ser criado e como pode chegar lá. Este princípio contrasta com a ideia de pré-definir metas / objetivos.

  1. O princípio de perda aceitável

Definir o que é aceitável de ser perdido a cada passo, e não tentar criar uma imagem completa de toda a oportunidade, bem como evitar a geração de um resultado no conceito tudo ou nada. Nesta maneira, não há expectativa de amplo retorno e apenas o foco no risco de queda.

  1. O princípio limonada

Convidar o fator surpresa e não tentar controlar o futuro, usando a notícia “ruim” como oportunidades. Neste caso, não precisa gastar muito tempo criando vários cenários hipotéticos para todas as piores possibilidades. Em outras palavras, se você receber alguns limões, prepare a melhor limonada possível!

  1. O princípio colcha de retalhos

Construir parcerias com potenciais interessados, porque estes parceiros-chave podem reduzir a incerteza e co-criar um “oceano azul” com pessoas interessadas. Este princípio contrasta com a ideia de que você precisa evitar os concorrentes e considera-los como rivais

  1. O princípio piloto no avião

Você é o piloto e você está no comando, e por isso não tente prever o futuro, foque no trabalho de cria-lo e gerar os resultados desejados. Este princípio baseia-se na ideia de que o futuro não é encontrado ou é previsível, na verdade, é o resultado da ação e esforço do empreendedor e da sua equipe.

Com base nestes princípios o autor definiu o ciclo eficaz, adaptado no diagrama abaixo:

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Neste diagrama, o ciclo começa pelos significados com base nas perguntas de quem eu sou, o que eu sei e quem eu conheço, depois disto, as metas são definidas pelo empreendedor pela pergunta o que eu posso fazer. Na terceira fase, ele / ela interage com outras pessoas visando a geração de compromissos com as partes interessadas. Portanto, o ciclo é mantido com a entrada de novas surpresas que impactam o processo até que sejam criados novos produtos vendáveis ​​com clientes comprometidos e outras pessoas interessadas ​​focadas em desenvolver novos mercados.

Considerando esta visão rápida sobre o conceito de effectuation, agora é possível explicá-lo de uma forma ainda mais simples, é como se uma pessoa que quer preparar o jantar e simplesmente abre a geladeira, descobre os itens que tem lá dentro e define neste momento, qual será o prato para a noite. Este processo é o inverso da abordagem convencional para empreendedorismo, onde na mesma situação, a pessoa começa a imaginar o que quer comer, lista todos os produtos que são necessários, vai ao supermercado para comprar os itens em falta e só depois de voltar em casa, é que começa realmente a preparar o jantar.

Concluindo, muitos atletas paralímpicos e pessoas com deficiências ou incapacidades estão acostumadas a resolver os obstáculos usando seus pontos fortes, portanto, eles / elas não gastam tempo planejando o que poderia ser necessário para fazer algo e como poderia ser mais fácil se tivessem todos os recursos disponíveis a qualquer momento, bem como geralmente, eles /elas não dispendem esforços para encontrar um investidor que irá apoia-los em todas as suas necessidades, e vale a pena destacar, que esta última abordagem é muito comum para os empreendedores tradicionais que não tem conhecimento sobre o modelo de pensamento effectuation.

Você concorda com esta lógica para os empreendedores iniciarem seus negócios?

Compartilhe conosco para evoluirmos juntos.

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Para saber mais:

  • SARASVATHY, S. D. Effectuation – Elements of entrepreneurial expertise. Edward Elgar, 2008.